O papel da família no tratamento da Compulsão Alimentar

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A Compulsão Alimentar é complexa na medida em que envolve aspetos emocionais, psicológicos e biológicos.

Sabe-se que procurar ajuda profissional, e no caso concreto acompanhamento psicológico, oferece o suporte necessário para compreender as raízes da Compulsão Alimentar e desenvolver estratégias mais individualizadas e eficazes.

Desenvolver novos hábitos, praticar conscientemente o auto-cuidado, permitir dar-se unidoses de prazer ao longo do dia, ter um diálogo mais auto-compassivo e escutar e respeitar as necessidades do corpo são elementos fundamentais para virar o jogo. Mas há mais.

Estamos inseridos num contexto, num meio, por isso é irrealista pensar que este não tem influência na forma como pensamos, sentimos e agimos. Estar consciente do poder que família, neste caso em concreto, tem no desenvolvimento de perturbações alimentares, bem como no seu tratamento é de enorme utilidade.

Também a família muitas vezes se sente impotente na forma como melhor atuar. Ter conhecimentos sobre a doença e como pode intervir de forma favorável é muito útil e imprescindível ao processo.

Compulsão Alimentar o que é?

A Compulsão Alimentar é uma perturbação do comportamento alimentar que passa forçosamente por duas características principais : comer excessivamente e sensação de descontrolo alimentar.

De acordo com a DSM-V existem critérios de diagnóstico:

  • Ingerir uma grande quantidade de comida;
  • Perda de controlo alimentar;
  • Frequência de episódios de pelo menos uma por semana;
  • Ocorrência no período de três meses consecutivos;
  • Comer mais rápido que o que normal;
  • Comer às escondidas;
  • Sentimentos de culpa após os episódios de compulsão.

Embora não conste nos critérios de diagnóstico, uma característica muito marcante da compulsão alimentar que caracteriza a psicologia e c compulsão alimentar são os pensamentos constantes e repetitivos relacionados com comida. A comida acaba por ser o centro da vida da pessoa.

A compulsão alimentar pode ser classificada de acordo com a sua gravidade:

  • leve (1 a 3 episódios por semana);
  • moderada (4 a 7 episódios por semana);
  • grave (8 a 13 por semana);
  • extrema (superior a 14 episódios por semana).
  • Pode ser avaliada se está em remissão parcial (frequência de episódios em média inferior a uma vez por semana) ou em remissão completa (não ocorrem episódios de acordo com os critérios).

Consequências da Compulsão Alimentar

O transtorno compulsivo alimentar acaba por comprometer a vida da pessoa num todo e são vários os efeitos negativos que podem desencadear.

  • Obesidade;
  • Diabetes tipo II;
  • Doenças cardíacas;
  • Dificuldades respiratórias;
  • Perturbações psicológicas;
  • Outras Perturbações alimentares.

Influência das relações familiares nas Perturbações do Comportamento Alimentar

Os valores e os modelos educacionais e afetivos passados têm uma enorme
Não se pretende aqui atribuir culpas nem responsáveis, apenas perceber factores que podem muitas vezes passar despercebidos.

Num estudo levado a cabo em 2016 foi possível traçar padrões de modelos parentais relacionados com o desenvolvimento de perturbações do comportamento alimentar em jovens.

Anorexia Nervosa – relatados problemas relacionados com a imposição de limites – sobreprotecção e dependência, grande rigidez, tendência ao perfeccionismo e grande organização, pouca tolerância a conflitos e fraca qualidade na comunicação.

Bulimia Nervosa – tendência a famílias mais desorganizadas, com pouca flexibilidade, fraca coesão familiar e grandes níveis de stress e conflitos familiares.

Compulsão Alimentar – Relatos de pouca expressividade emocional, comunicação pouco afetiva, menção de comentários relacionados com imagem corporal

Não sendo simplista na análise nem generalista no conteúdo, parecem haver características comuns aos diferentes quadros de perturbações do comportamento alimentar – fraca expressão ou gestão emocional, rigidez e inflexibilidade e comunicação de fraca qualidade.
Fica claro que os modelos de vinculação bem como os comportamentos familiares podem ter uma grande relação na forma como a criança, jovem e até mesmo adulto se relacionam com as suas emoções e, consequentemente, com a alimentação.

Cabe aos pais ficarem atentos a estes dados, mas perceberem que sempre há algo a fazer.

O papel da família nas Perturbações do Comportamento Alimentar

  • Estar atento à importância de uma moderação de limites muito rigidos/flexibilidade;
  • Fomentar uma relação onde haja espaço à partilha de emoções;
  • Promover diálogos abertos e respeitadores;
  • Ter refeições em família sendo um espaço de coesão e harmonia;
  • Manter uma relação saudável com a comida sem excessos nem restrições;
  • Quebrar preconceitos relacionados com o corpo e alimentação;
  • Estar presente também na parte de mudanças de hábitos;
  • Sensibilizar para a importância de pedir ajuda especializada e acompanhar.

 

Conclusão

A família pode e deve ser uma rede de apoio que desempenha um papel crucial no processo de tratamento de quadros de perturbações do comportamento alimentar.

As atitudes do dia-a-dia são fundamentais para a melhoria do quadro e a família pode estar mais consciente de medidas que pode tomar: evitar comentários sobre comida e corpos; incentivar ou mesmo procurar um profissional capacitado e estar disposto a colaborar com o mesmo; auxiliar na adesão ao tratamento e na utilização de estratégias encontradas estar disposto a fazer ajustes na alimentação.

Há tanto a fazer, sendo que uma presença saudável é sempre o melhor suporte. Eu e a minha equipa estamos disponíveis para caminhar convosco.

Olá, sou a Maria Duarte

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