Sofia – história de obesidade (parte III)

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– Como assim não desaparecem? Não percebi agora. Deu-me um aperto no coração! Então não adianta de nada o que quer que faça a gordura já cá está e já não sai e não. Estou condenada!

–  Sim, não desaparecem. E não, Sofia adianta sempre fazer diferente! Mas vamos por partes! Não desaparecem e à medida que aumenta a quantidade de gordura não é possível diminuir, daí que a obesidade seja crónica. Só que as células encolhem. Repare Sofia e aqui entra a outra questão que levantou do ´não adianta´, e é legítima a indignação. O que acontece é que as novas células nascem das velhas células de gordura que se dividem e se se alterarem elas encolhem. E é aqui que entra o papel ativo da Sofia – no nascimento das novas células. Por exemplo, com exercício físico há aumento do músculo que ocupa o espaço da gordura, e por isso uma diminuição da massa da gordura. Percebe que sendo crónico e não havendo ‘cura’ há tratamento? 

– Isto é tudo tão difícil e já se arrasta há tantos anos. Tantas dietas, já passei tanta fome, só de pensar em passar por tudo outra vez.

– Sofia excelente gancho para que tudo se perceba ainda melhor. Mais uma informação que importa sensibilizar. Falou do histórico de dietas que ambas já conhecemos. Esse histórico repetitivo foi prejudicial ao seu organismo. Não o fez com essa intenção, obviamente, mas a verdade é que todo esse ciclo de dietas e perda e reganho de peso foram encarados pelo seu organismo como um alerta “está a faltar recursos deixa-me cá poupar para sobreviver” e houve com isso redução da taxa metabólica basal. Também a tiroide e a testosterona sofreram alterações. Veja Sofia há uma série de alterações hormonais, que nem se dá conta, que aconteceram como forma de o corpo se defender, sendo cada vez mais difícil nas dietas seguintes. É como se o seu corpo se blindasse a uma nova ‘ameaça’.

– Então qual é a solução?

– Sofia eu tinha reservado este nosso encontro para falarmos sobre obesidade. O que é, as causas, as consequências. Mas já me conhece e já sabe que eu danço conforme a música. Então respondendo à sua pergunta, sabe Sofia as pessoas encaixaram na cabeça que a única forma de emagrecer é.…devolvo-lhe a pergunta!

– Não comer. Quer dizer… tem de se comer alguma coisa, mas pouco. 

– Isso! Segundo um estudo publicado em 2017 92% de pessoas interrogadas sobre qual a melhor forma de fazer dieta responderam através de dieta restrita. A mesma percentagem foi atribuída à forma como foi feita a primeira dieta – restritiva. A questão é que as pessoas não sabem como realmente funciona a fisiologia e o prejuízo que substituição de refeições e/ou restrição calórica severa tem para a saúde e inclusive para o emagrecimento a longo prazo. De facto, há perda de peso num primeiro momento, mas e depois? E será que perder peso é estar mais magro? Será que há manutenção ou reganho do peso? A Sofia está a ser acompanhada por uma nutricionista e é algo que temos também explorado em consulta os medos por detrás da comida, os mitos que envolvem grupos alimentares, mas que depois também geram obsessão e exageros. Não vejo necessidade de me alongar mais aqui o que acha Sofia?

– Aqui? 

– No fator alimentação como causa da obesidade. 

– Oh isso é obvio.

– Mas podemos ter um antídoto.

– Qual? Isso é que quero saber.

– Ambas sabemos que sabe qual é.

– Claro que sei. A dra. não me deixa esquecer! 

– Sofia não tem de ser federada. Nem o verbo ́ter ́ aqui parece cair muito bem, mas são inequívocos os estudos que apontam a prática do exercício físico como um excelente coadjuvante no emagrecimento saudável e tão menosprezado. Repare o exercício físico está associado a restrição calórica sem estar associado a privação de comida. Está comprovado que melhora a saúde a saúde física e mental que tanto nos importa…é um ansiolítico maravilhoso, tal como a comida, só que este deixa-lhe endorfinas a circular e a comida deixa-lhe a culpa.

– Agora é que disse tudo!

– Quando se fala da prática de exercício físico como o tal antídoto não deverá ser numa perspetiva de começar e parar. Lembre-se que o nascimento das novas células requer continuidade. Sofia diz-se que a obesidade é crónica, mas é um crónico com tratamento. 

– Então dra. é possível eu conseguir? Mesmo que não seja tão rápido quanto gostaria? Está sempre tão distante! Mas sabe fez me bem conhecer a verdade. Dá-me mais responsabilidade. É o tal tijolo a tijolo da sua história. Estou sempre com medo de escorregar e não conseguir ser magra e feliz.

– Ahhh… Mesmo a prepósito parece que foi combinado! Lembra-se de lhe ter dito que no final da consulta voltaria a tocar num ponto? Aqui está ele, na muche para encerrar. Foi feita uma pesquisa em 2017 em que se percebeu que foram feitas muitas mais pesquisas no Google a palavras relacionadas com emagrecimento do que a palavras relacionadas com felicidade. Parece estar implícito que só quando se tiver o corpo x se conseguirá ser feliz. Eu sei Sofia que no seu caso falamos de saúde, sei que vai muito além de querer alcançar o corpo de verão. Mas Sofia repare, indo ao encontro deste estudo, talvez a felicidade seja alcançada quando começar a olhar para a doença com um propósito maior para a sua jornada e não como um simples emagrecimento, como um fardo. E talvez aqui tenha uma boa reflexão para a sua viagem de regresso até ao carro e até ao nosso ao nosso próximo encontro. 

– Só sei que me sinto mais leve, mesmo que com o mesmo peso. Obrigada!

– O peso da cabeça, Sofia! Até à próxima. Cuide-se!

Olá, sou a Maria Duarte

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