Alterações do sono e comportamento alimentar – Que relação?

BulimiaCompulsão AlimentarPsicologia

Cada vez mais se tem investido no estudo em torno dos efeitos nefastos de um sono de má qualidade – privação de sono e trabalhadores por turnos – alteração do ciclo circadiano. 

Os estudos mais recentes apontam para a correlação entre a privação de sono e o aumento de riscos de desenvolvimento de alteração do comportamento alimentar por afetar variáveis a ele associadas, bem como pela desregulação do apetite. 

Estar consciente do importante papel que o sono tem ajuda a parar para tomar medidas.

O que são perturbações do comportamento alimentar?

As perturbações do comportamento alimentar enquadram-se nas perturbações psiquiátricas e implicam uma relação desajustada do próprio em relação a si, à sua imagem e alimentação. Há um desalinhamento na forma como o sujeito se alimenta, por excesso ou defeito, e as suas reais necessidades. É uma condição séria e grave na medida em que afeta negativamente a sua saúde física e mental e se alastra a diferentes áreas da vida.

De entre as várias perturbações do comportamento alimentar existentes, a Anorexia Nervosa, a Bulimia Nervosa e a Ingestão Alimentar Compulsiva (Compulsão Alimentar) são as mais conhecidas e prevalentes. Pese embora ainda não sejam consideradas perturbações do comportamento alimentar pela DSM-5 – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, a Ortorexia e Vigorexia têm apresentado um aumento no número de casos.

Comportamentos de risco na alimentação

  • Restrição da quantidade ou tipologia de alimentos ingerida (sem causa médica);
  • Prática excessiva de atividade física;
  • Indução voluntária do vómito ou uso recorrente de laxantes, diuréticos, suplementos;
  • Ingestão alimentar sem capacidade em parar;
  • Obsessão por uma alimentação saudável levado ao extremo;
  • Recusa de convites sociais pela exposição à comida.

Causas das Perturbações do Comportamento Alimentar

Não havendo uma resposta única pela multiplicidade de factores e pela individualidade humana existem causas que podem estar na génese do desenvolvimento de comportamentos alimentares desajustados e mesmo de perturbações do comportamento alimentar:

  • Comentários depreciativos e constantes em relação ao corpo;
  • Envolvimento em modalidades desportivas onde são necessários critérios relativos à imagem corporal;
  • Culto excessivo à aparência física;
  • Distorção da imagem corporal;
  • Situações de trauma;
  • Baixa autoestima;
  • Perturbação de ansiedade;
  • Maus hábitos alimentares;
  • Questões hormonais;
  • Aspetos de personalidade.

Qual a importância do sono para a saúde?

O sono tem um papel fundamental. É durante o sono, no qual o corpo está em descanso, que se recupera das atividades a que esteve exposto ao longo do dia e acontece a restauração de tecidos musculares e renovação celular.

Percebe-se que o sono não serve apenas para descansar, mas leva a cabo um conjunto de funções que nos vão servir para durante o dia. A par com uma alimentação cuidada e a prática de exercício físico deve ser considerado um pilar para a saúde e prevenção de doenças físicas e mentais.

Também a privação de sono pode ser influenciada negativamente não apenas no individual mas no coletivo. Por exemplo, a falta de sono pode levar a sonolência diurna e daí resultar maior incidência de rendimento e acidentes no local de trabalho , bem como acidentes de viação.

Muitos estudos têm vindo a corroborar que a fraca qualidade do sono tem uma correlação direta com a qualidade de vida:

  • declínio sobre a qualidade de vida e capacidades funcionais;
  • descompensações metabólicas.

Sono e saúde mental – que relação?

De acordo com a American Sleep Association, o sono, necessidade fisiológica, é essencial ao funcionamento do organismo, diminuindo, quando de qualidade, o risco de problemas cardíacos, respiratórios e neurológicos.

O que acontece enquanto dormimos?

  • Descanso e recuperação: recuperação das atividades diárias e restauração de tecidos musculares e a renovação celular;
  • Consolidação da memória: o cérebro durante o sono processa e armazena informações, ajudando consolidação da memória e aprendizagem;
  • Regulação do humor: ajuda na regulação do humor e manutenção do equilíbrio emocional. Em oposição ao aumento da irritabilidade, impulsividade e ansiedade que há uma maior propensão de ocorrer na privação de sono ou sono de má qualidade;
  • Rejuvenescimento do sistema imunitário: através da proteção do corpo contra doenças e infecções;
  • Regulação do apetite e do metabolismo: o sono afeta a produção de hormonas que regulam o apetite – grelina e leptina – e o metabolismo, o que pode afetar o peso e potenciar perturbações do comportamento alimentar.
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  • Efetivamente quem sofre de privação de sono ou não tem um padrão de sono reparador está mais suscetível a desenvolver quadros de depressão, ansiedade e a lidar com os problemas com maior dificuldade.

Sono e alteração do comportamento alimentar


Todo o complexo hormonal é imprescindível para o bom funcionamento de atividades metabólicas: crescimento, desenvolvimento, aspetos sexuais e homeostase de diversos sistemas, nomeadamente o da alimentação.
As hormonas grelina e leptina – hormonas da fome e saciedade – estão diretamente ligadas à ingestão alimentar. Daí o sono ser essencial para a regulação destes sistemas. Não é de todo simplista, não é colocar apenas a tónica no “foco, força e fé”!

Ocorre, de facto, uma diminuição da saciedade e um aumento do apetite – há um aumento da concentração plasmática de grelina e uma diminuição na concentração de leptina. Esta ocorrência que é hormonal promove um maior consumo alimentar, com uma maior incidência em alimentos com menor qualidade nutricional.

 

Conclusão

A revisão de inúmeros estudos apontam a promoção de medidas voltadas para a melhoria da qualidade do sono como devendo fazer parte do tratamento de perturbações do comportamento alimentar e/ou má relação com a alimentação. Ou seja, a par com o acompanhamento psicológico, psiquiátrico e nutricional, sem uma alteração do padrão do sono torna-se difícil a melhoria do quadro clínico.
Olá, sou a Maria Duarte

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