3 de Maio de 2020

Miguel as palavras que te escrevo têm um sabor agridoce….

Sabor porque são sobre comida , porque espelharam sofrimento e descrença, doce porque me devolveram alegria de viver, proporcionaram descobertas, trouxeram-me esperança e liberdade. 

É o primeiro ano que saio (e mantenho) o papel de filha e desfruto do papel de mãe neste que é um dia especial. Mas não foi o dia da mãe que me fez pegar no papel e caneta às 5h da manhã enquanto olho para ti do meu lado num doce e sereno sono profundo, num sono de amor, num sono de crescimento, num sono de esperança. É impossível não estar a olhar para ti e não olhar para trás, aquele atrás antes de existires e ao mesmo tempo estares sempre tão presente. Aquele atrás em que eras a minha única esperança e via em ti a minha salvação.

Tanto em processo psicoterapêutico como em processo de coaching mesmo não existindo na dimensão física foste sempre a minha maior âncora. Era em ti que pensava. Sinto que já era tua mãe sem o ser. Foi para ti que escrevi a carta de despedida do “velho eu” ,  era a pensar em ti que respondia a todas as questões, eras tu que me aparecias nos trabalhos de reflexão, era em ti que pensava quando me projetava no futuro. Não existias, mas já carregavas esta carga emocional tão intensa. 

Quando pensava como seria a minha vida e qual seria a minha maior perda em manter o mesmo comportamento automaticamente pensava numa mãe sem paciência, energia, desgastada, agarrada a uma lata de cereais enquanto te ouvia a chorar  no andar de cima. Uma mãe desmazelada, sem vontade de brincar, enjoada, uma mãe que te ouvia brincar, dar gargalhadas com o pai, mas sem capacidade emocional e física para se juntar à festa, brincar, rebolar, mandar-te ao ar e contar histórias de fazer sonhar. Esta era a história de terror que passou vezes sem conta na minha cabeça.  Eu queria pensar em tudo ao contrário, mas não conseguia. 

Hoje, 3 de Maio de 2020, é o meu primeiro dia da mãe e consigo pensar e sentir de forma bem diferente, porque diferente vivo essa realidade. 

Miguel foste sempre a minha maior âncora, a minha esperança, mas hoje seu que o fardo era demasiado pesado. Hoje sei que a maior força não poderia estar em ti. A maior força veio de dentro de mim. Hoje estou presente, brinco, danço, canto para ti porque o amor é grande, não só por ti, mas também por mim. Só assim é possível olhar para ti com ternura, porque me olhei assim primeiro! Hoje sei que só me posso sentir a pessoa mais abençoada do mundo por te ter aqui do meu lado, de chupeta na boca, quentinho e com tanto para darmos um ao outro. Hoje e amanhã viveremos em saúde, equilíbrio e liberdade e não há como não sermos felizes. Aceitas?

Com amor da tua mãe, que gosta de nós incondicionalmente!

Olá, sou a Maria Duarte

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