É necessário olhar para as Perturbações do Comportamento Alimentar com rigor, respeito e empatia. Há um enquadramento histórico cuidadosamente estudado e fundamentado que nos dá conta que não se trata de um ‘modismo’. As doenças do comportamento alimentar comprometem significativamente a saúde física e psicossocial, podendo mesmo ser letal – a anorexia é a perturbação psiquiátrica com maior número de mortalidade. Elas advém de diferentes fatores sendo imprescindível dar luz a todos eles.

O que são Perturbações do comportamento Alimentar?

Perturbações Alimentares são um grupo de doenças psicológicas caracterizadas por alterações significativas do comportamento alimentar normal, definidas por um conjunto de atitudes e comportamentos relacionados com a alimentação, o peso e a imagem corporal. São, por isso, perturbações de natureza emocional e física e acarretam graves prejuizos, podendo mesmo levar à morte.

Quais as Perturbações do comportamento alimentar existentes?

Breve apresentação das Perturbações Alimentares que constam na DSM-V – Manual diagnóstico e estatístico de perturbações mentais:

  • PICA – há a ingestão de substâncias não alimentares, como por exemplo, barro, lascas de tinta, cabelo, papel, tecido, terra, cola, metal. A maioria das coisas que comem não são nocivas à saúde. Deve ocorrer por um período de pelo menos um mês.
  • Mericismo – consiste na regurgitação e ruminação repetida dos alimentos. Os alimentos regurgitados podem ser novamente mastigados, engolidos ou cuspidos. Deve ocorrer pelo menos durante um mês.
  • Perturbação da Ingestão Alimentar Evitante/Restritiva – caracteriza-se pelo fato de a pessoa comer muito pouco e/ou evitar comer determinados alimentos. Não está relacionado com uma distorção de imagem corporal ou preocupação com a imagem corporal. Há um evitamento pelas características sensoriais dos alimentos, desinteresse em se alimentar, aversão à alimentação. Compromete o aporte nutricional, levando muitas vezes a perda significativa de peso, e o adequado funcionamento psicossocial.
  • Anorexia Nervosa – caracteriza-se por uma busca incessante pelo emagrecimento fruto de uma imagem corporal distorcida, um medo extremo de engordar e da obesidade levando a uma restrição alimentar muito severa, que resulta num peso corporal significativamente baixo. É a perturbação psiquiátrica mais letal.
  • Bulimia Nervosa – caracteriza-se por episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios. O ciclo repete-se porque há uma sensação de alívio emocional após a compensação.
  • Perturbação da Ingestão alimentar Compulsiva – tal como ocorre na bulimia nervosa existem períodos de ingestão alimentar descontrolada, no entanto, não há mecanismos de compensação.
  • Perturbação da Alimentação e da Ingestão com outra especificação – estão as situações em que predominam sintomas característicos de uma perturbação alimentar mas não preenchem critérios de diagnóstico de nenhuma das outras perturbações alimentares.

Causas

Não existe uma causa precisa e única. As perturbações do comportamento alimentar são complexas e multifatoriais (componente genética, biológica, psicológica e social).
A pressão que a sociedade coloca parece ter um grande peso. Pessoas com uma baixa auto-estima, grande insatisfação com a imagem corporal, perfeccionistas e impulsivas podem sofrer uma maior predisposição a desenvolver perturbações alimentares.

 

Tratamento

O tratamento deve ser multidisciplinar e iniciar o mais precocemente possível, para evitar o agravamento da doença.
Cabe à equipa disciplinar detetar e tratar todos os problemas associados, dando também ao doente ferramentas de gestão mais autónoma.
Em algumas situações pode ser importante recorrer-se a medicação prescrita pelo psiquiatra em combinação com o acompanhamento psicológico. Cabe ao nutricionista traçar um plano adequado a cada pessoa por forma a evitar desajustes nutricionais que fazem perpetuar o ciclo. E em conjunto com o psicólogo desmistificar o papel e visão, muitas vezes distorcida, do alimento na sua vida.
 

Prevenção

Parece óbvio, mas o óbvio falha!

  • Identificar e corrigir precocemente comportamentos potenciadores de perturbações alimentares;
  • Ter cuidado com os perfis que se seguem nas redes sociais e o número de horas passadas nelas;
  • Evitar permanecer num ciclo de comparações;
  • Ter hábitos alimentares saudáveis;
  • Evitar dietas restritivas;
    Fazer refeições acompanhada num ambiente calmo e descontraído;
  • Procurar ajuda profissional assim que se apercebe que algo se passa de ‘errado’.

Conclusão

As perturbações do comportamento alimentar afetam milhões de pessoas, comprometem o bem estar bio-psico-social e são um problema de saúde pública. Contrariamente ao estigma, ainda, existente estão bem documentadas e têm sido alvo de muitos estudos.


Merece ser diagnosticada devidamente e ter um suporte do ponto de vista clínico e social que faça baixar o sofrimento e número de casos existentes.

Olá, sou a Maria Duarte

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