Tratar compulsão alimentar: como prevenir e controlar

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Não obstante da compulsão alimentar estar relacionada com o ato de comer excessivo e de forma descontrolada, na medida em que há a incapacidade em parar, não há dúvidas que a sua raíz é psicológica e traz inúmeros peejuízos à saúde num contexto geral. A pessoa passa a ter constantemente vergonha e nojo dela própria e a coloca-se em causa frequentemente pelos comportamentos que pensa ter que ter controlo mas que a verdade não tem as ferramentas adequadas para o conseguir. É uma perturbação mental que compromete seriamente a vida da pessoa e lhe confere um enorme grau de sofrimento. 

A boa notícia é que é possível dar a volta por cima!

O que é a compulsão alimentar?

A Compulsão Alimentar é uma perturbação alimentar que se caracteriza por dois aspetos centrais: a ingestão excessiva de comida que ocorre precisamente pela perceção de perda de controlo do indíviduo.

Segundo a DSM-V existem critérios claros que servem de suporte ao diagnóstico, nomeadamente:

    • Frequência de pelo menos uma vez por semana, num contínuo de três meses;

    • Comer mais rápido que o que normal;

    • Comer às escondidas;

    • Sentimento de culpa, revolta e angústia após os episódios de compulsão.

Durante um episódio de compulsão alimentar, o indivíduo come até se sentir “desconfortavelmente cheio”. Isto acontece porque a ingestão alimentar ocorre mesmo na ausência de fome física e numa quantidade excessiva, precisamente pela ausência de controlo.

Há um isolamento durante o ato – comer às escondidas- pela vergonha sentida e pelo sentimento de inapropriação perante a quantidade de comida que é ingerida.

Apesar de não constar nos critérios de diagnóstico, outra característica muito marcante desta perturbação que caracteriza a psicologia e c compulsão alimentar são os pensamentos constantes e repetitivos em torno da alimentação no decorrer do dia.

Pode ser classificada de acordo com a sua gravidade: leve (1 a 3 episódios por semana), moderada (4 a 7 episódios por semana), grave (8 a 13 por semana) e extrema (superior a 14 episódios por semana). Pode ser avaliada se está em remissão parcial (frequência de episódios em média inferior a uma vez por semana) ou em remissão completa (não ocorrem episódios de acordo com os critérios).
Na compulsão alimentar não existem mecanismos compensatórios, ao contrário do que acontece na bulimia nervosa.

Quais os principais riscos associados?

Existem riscos associados à manutenção da compulsão alimentar, nomeadamente:

    • Desenvolvimento de outros quadros psiquiátricos tais como depressão, ansiedade e perturbação obsessiva compulsiva (os mais prevalentes);

    • Aumento de peso;

    • Migração para outras perturbações alimentares, nomeadamente bulimia nervosa e anorexia nervosa ou noutros âmbitos alimentares, tais como, ortorexia.

    • Apneia do sono;

    • Doenças como hipertensão, colesterol alto e diabetes tipo II;

    • Infertilidades;

    • Problemas de gastrites

    • Isolamento social e as consequências que daí advêm.

Como prevenir?

A prevenção deverá passar sempre numa primeira instância pelo conhecimento da doença e as consequências que ela acarreta. Trata-se de uma perturbação complexa e multifactorial e por isso a prevenção deveria ser o passo zero!

A verdade é que não há formulas mágicas e o que desencadeia o quadro tem a sua raíz no emocional, no entanto, há comportamentos que reduzem o risco de desenvolvimento. Coisas que são simples e possível de encaixar no quotidiano.

    • Abandonar dietas restritivas (nem todas as dietas geram quadros de compulsão alimentar, mas todo o quadro de compulsão alimentar tem uma história de dieta);

    • Rotina alimentar (alimentar-se regularmente e de forma programada) e hidratação adequada;

    • Alimentar-se de forma presente, apreciar o que está a comer, mastigar bem, sem pressa (sempre que possível);

    • Exercitar-se fisicamente com regularidade;

    • Fazer uma boa higiene do sono (a qualidade do sono tem um grande impacto no apetite e controlo de impulsos);

    • Fazer atividades que lhe sejam prazerosas e, preferencialmente, em convívio;

    • Estar atento a características e formas de agir relacionadas com: alto nível de exigência, perfeccionismo, padrões de ansiedade, necessidade de controlo, necessidade de agradar.

Tratamento – por onde começar?

Partindo da premissa de que a compulsão alimentar pode ser multifatorial, também o tratamento carece do olhar de diferentes profissionais de saúde especializados, preferencialmente, em perturbações alimentares, dado que é dentro das perturbações psiquiátricas algo muito específico.

Tratar a compulsão alimentar requer que haja um acompanhamento multidisciplinar onde, preferencialmente, há um cruzar de informação de cada utente revela-se extretamente promissor ao tratamento. Psiquiatra, psicólogo e nutricionista são, sem menosprezar outros envolvidos, profissionais de primeira linha no tratamento das perturbações alimentares no geral e da compulsão alimentar em particular.

Dar a volta

A definição da compulsão alimentar ainda gera controversa na medida em que incorpora elementos subjetivos na sua definição, como a quantidade de alimentos para se configurar ‘excesso’.

Não obstante esta subjetividade, caso haja perceção de perda de controlo por parte do indivíduo e carregue consigo sofrimento, deve ser tratado de igual forma. Porque é o comportamento que se está a manter e, principalmente, o que o está a motivar que deverá ser alvo de atenção e intervenção.

Diversos estudos sugerem, em linhas gerais, a consideração de duas linhas. Uma que se apresenta mais objetiva (aumento do peso, mudança no comportamento alimentar e problemas de saúde) e outra mais subjetiva (sentimentos e história de vida que potenciaram o aparecimento/manutenção da perturbação). Psicologia e compulsão alimentar estão diretamente ligadas.

Daqui resulta uma caracterização de uma perturbação complexa, multifatorial e que por isso exige um olhar muito sensível, perspicaz e assertivo por parte dos diferentes profissionais na medida em que os efeitos que produz vão muito para além do corpo.

 

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