A obesidade é atualmente uma preocupação à escala mundial, principalmente mais prevalente nos países industrializados. Trata-se de um dos problemas de saúde pública mais preocupantes pelo crescente número de pessoas e pelas graves consequências que acarreta. 

É um fenômeno multifatorial – envolve a componente genética, endócrina, psicológica, comportamental e social –  pelo que o seu tratamento requer olhares de profissionais de diferentes áreas. 

 

Cirurgia bariátrica – considerações gerais

Segundo o SNS a obesidade é definida como uma doença crónica caracterizada pelo excesso de gordura acumulada no organismo. Resulta de um desequilíbrio entre as calorias ingeridas, através dos alimentos, e a quantidade de calorias gastas com exercício físico ou atividades quotidianas. Ou seja, quando um balanço energético positivo persiste por um longo período, o peso aumenta e a obesidade tende a  desenvolver-se.

A maneira mais objetiva para classificar a obesidade é através do Índice de Massa Corpórea (IMC). 

  • Normal – 19 a 24,9 Kg/m2. 
  • Obesidade grau I – 30 a 35,9 kg/m2
  • Obesidade grau II – 35 a 39,9 kg/m2
  • Obesidade grau III – maior que 40 kg/m2

A cirurgia bariátrica tem sido o método mais eficaz no tratamento da obesidade mórbida. No entanto é insuficiente caso não haja uma mudança no estilo de vida da pessoa obesa. Aliás, recorre-se ao procedimento cirúrgico caso o tratamento multidisciplinar que envolve a reeducação alimentar, atividade física, por vezes uso de medicação e acompanhamento psicológico não tenham gerado os resultados pretendidos. Isto porque o objetivo da cirurgia não se circunscreve apenas à perda de peso, mas acima de tudo à alteração de uma série de variáveis capazes de manter os ganhos obtidos – o peso perdido –  prevenindo, simultaneamente, o surgimento de outras doenças associadas, bem como melhorando a qualidade de vida a curto, médio e longo prazo.

 

A quem se destina?

  • IMC igual ou maior que 40 kg/m² sem comorbidades ou IMC igual ou maior que 35 kg/m² com comorbidades
  • Idade entre 18 e 65 anos
  • Obesidade de longa data (> 5 anos)
  • Falha em tratamentos clínicos de redução de peso nos dois anos anteriores
  • Após avaliação se verificar que o utente tem motivação, disposição e capacidade para cumprir as recomendações indicadas e esteja disposto a ser acompanhado no pós-operatório.

Comorbilidades associadas à obesidade

  • Doenças coronárias;
  • Diabetes;
  • Apneia do sono;
  • Doenças articulares degenerativas;
  • Problemas endócrinos;
  • Risco de AVC;
  • Perturbações psicológicas (ansiedade, depressão, perturbações do comportamento alimentar).
 

O papel do psicólogo na cirurgia bariátrica

Segundo Khaodhiar, pessoas obesas apresentam maiores níveis de sintomas depressivos, ansiosos, alimentares e de perturbações de personalidade. Porém, a presença de psicopatologia não é necessária para o aparecimento da obesidade. Assim, a obesidade poderia ser vista como causadora da psicopatologia e não como consequência. 

 

Como visto anteriormente, para que os efeitos da cirurgia se mantenham a longo prazo é necessário o acompanhamento de uma equipa multidisciplinar capacitada. 

 

O psicólogo assume um importante papel no acompanhamento da pessoa com obesidade, quer no pré quer no pós cirurgia.

 

Pré- cirurgia:

  • avaliar se o paciente está emocionalmente capaz de realizar a cirurgia e suportar o pós operatório;
  • Elucidar de todos os aspectos relacionados com a cirurgia (avaliá-lo quanto aos seus conhecimentos sobre a cirurgia, riscos e complicações, benefícios esperados, exames e seguimentos requeridos em longo prazo, consequências emocionais, sociais e físicas e responsabilidades esperadas);
  • Detetar e acompanhar utentes portadores ou potencialmente sujeitos a perturbações psicológicas;
  • Avaliar e gerir expectativas do pós operatório.
  • Capacitar o utente com ferramentas práticas para fazer face a possíveis sintomas de ansiedade no pré-cirurgia.

 

Pós- cirurgia

  • É apontado como um período de maior fragilidade emocional.
  • Facilitar a adesão ao tratamento;
  • Promover expectativas realistas e reflexões sobre as transformações corporais;
  • Ajudar a refletir sobre as mudanças necessárias no estilo de vida;
  • Capacitar a pessoa a melhor saber lidar com sintomatologia ansiosa e depressiva;
  • Avaliar possíveis riscos de mecanismos compensatórios – compulsão e uso de substâncias psicoativas, nomeadamente o álcool e ajudá-la nesse sentido.

 

A terapia cognitivo-comportamental é a abordagem dentro da Psicologia que tem demonstrado resultados mais robustos  no  período pré e pós-cirúrgico.

 

Quando procurar acompanhamento psicológico?

O psicólogo deve fazer parte desde sempre. O seu contributo é imprescindível para minimizar possíveis incidentes no decorrer do pós operatório e prepará-lo para o mesmo.

As mudanças psicológicas são marcantes, pelo que ter esta profissional capaz de ajudar o paciente a fazer ajustes nos seus hábitos de vida e a resolver  conflitos que surgem é essencial. 

Não se trata de fazer ‘apenas uma cirurgia’ requer mudanças de base que definirão o desfecho de todo o processo.  

Conclusão

Muitas vezes é descurado o acompanhamento do psicólogo por ser algo que aparentemente é de senso comum. Mas não é, a diferença é grande!

O acompanhamento psicológico durante o processo pré e pós-cirurgia é extremamente importante para que o objetivo da perda de peso e melhoria da qualidade de vida sejam alcançados e mantidos com um menor sofrimento e gerindo melhor as expectativas. Passa por atuar de forma individual e humanizada promovendo a tão necessária auto-confiança.

 
Olá, sou a Maria Duarte

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